sexta-feira, 7 de março de 2014

Brincadeira é coisa séria



Um dia antes de "comemorarmos" o Dia Internacional da Mulher" considerei ser interessante publicar a propaganda acima que faz parte de uma campanha contra o machismo promovida pelo Governo do Equador. O vídeo mostra imagens de estereótipos de gênero constantemente reforçados e reproduzidos pelos meios de comunicação e pela indústria de brinquedos.

O brinquedo é uma imagem cultural por meio da qual a criança entra em contato com um discurso destinado a ela sobre a sociedade em que está inserida. A escolha dos brinquedos que damos as nossas crianças documenta como nós adultos nos colocamos diante do mundo infantil. Como disse Brougère (1998), mais do que representar a realidade, os brinquedos são uma idealização. Cabe a nós como sociedade refletirmos sobre que idealizações queremos oferecer às crianças.

Essa discussão torna-se mais que essencial num país em que se registram 5,6 mil feminicídios a cada ano (segundo dados do Ipea) e numa época em que pai mata por espancamento filho de oito anos que gostava de lavar louça e dançar dança do ventre.

Encerro esse post (mas nunca o debate sobre esta questão) com um trecho de um texto do jornalista Sakamoto: 

"A disputa é no campo do simbólico e, portanto, fundamental. Todos nós, homens, somos inimigos até que sejamos devidamente educados para o contrário. E os brinquedos que escolhemos para nossos filhos fazem parte dessa longa caminhada a fim de garantir um mínimo de decência para com o sexo oposto."

Afinal, que mundo queremos mostrar para as crianças por meio dos brinquedos?


Referências Bibliográficas:
BROUGÈRE, G. (1998). Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas.



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Campanha do Conar evidencia a postura do órgão diante das críticas à publicidade

Recentemente a AlmapBBDO criou uma campanha para o Conar - Conselho de autorregulamentação Publicitária - que me deixou bem intrigada. A campanha consiste em dois VTs que mostram, com tom de humor, situações fictícias ilustrando reclamações feitas pelos consumidores ao órgão. Confira os dois comerciais logo abaixo:




Fiquei me perguntando até agora qual o sentido desses anúncios. Deixar claro que o CONAR privilegia interesses privados e não coletivos? Satirizar os consumidores que realizam denúncias ao único órgão que regulamenta a publicidade no país e que se diz autossuficiente? Na verdade, o CONAR não deveria era estar fazendo anúncios divulgando para a sociedade civil que existe um órgão que supostamente atende às denúncias dos consumidores que se sentirem lesados por algum anúncio publicitário?

Essa ação do CONAR deixa claro que o órgão tem uma ação limitada ao priorizar os interesses comerciais dos anunciantes e mostra que é uma tarefa difícil (pra não dizer impossível) pensar na autorregulamentação como legitimadora da atividade publicitária. 

Além disso, essa ação mostra o quanto o Brasil está atrasado na discussão sobre a ética e a responsabilidade social da publicidade. Poderia citar aqui inúmeros exemplos de políticas públicas de regulamentação publicitária de países com democracia consolidada (França, Canadá, Alemanha, Suécia etc). Mas, para não sair do tema da autorregulamentação, cito a Espanha que, embora não tenha políticas tão avançadas nesse quesito como os países mencionados, possui 11 códigos de ética que autorregulam somente a relação infância e publicidade. Não estou falando de ações de ONGs ou movimentos sociais, estou falando de 11 códigos que abordam uma única temática e foram acordados pelos meios de comunicação, principais anunciantes, associações comerciais e principais profissionais relacionados com a atividade publicitária na Espanha. 

Enquanto isso... aqui no Brasil, onde há um único código, nós publicitários estamos achando graça desses anúncios do CONAR, órgão que supostamente segue esse código. 

Nem entro no mérito se a autorregulamentação é suficiente na Espanha (isso daria mais uns 3 posts). A questão é mostrar como nós, profissionais de publicidade, ainda não encaramos com seriedade a responsabilidade social das mensagens publicitárias.

A publicidade, antes de mais nada, deve respeitar o consumidor. O CONAR deveria ao menos dar o exemplo.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O discurso infantil sobre os hábitos de acesso à internet

Gostaria de compartilhar o estudo "Usos infantiles de internet. Perspectivas y prospectivas" de autoria da querida colega Josefa Piñeiro Castro, realizado para a obtenção do título de doutora em comunicação pela Universidade de Vigo. Na sua tese, defendida no mês passado, Josefa Piñeiro apresenta o discurso de estudantes do ensino fundamental a partir de suas navegações nos computadores das salas de informática de três escolas públicas espanholas. 

A autora concluiu com a pesquisa que as crianças desenvolvem certas capacidades pelos seus hábitos praticados nos entornos digitais. Além de satisfazer suas necessidades educativas, as crianças realizam muitas buscas direcionadas a outras áreas nem sempre consideradas educativas como, por exemplo, os jogos. O aprendizado informal obtido através dos jogos e a comunicação realizada nas redes sociais são as atividades de maior interesse das crianças durante o horário das aulas de informática. Como utilizar essas informações fornecidas pelas crianças para melhorar o currículo acadêmico formalizado é a grande questão deixada pelo estudo de Josefa Piñeiro. 

Ainda é necessário a realização de mais estudos sobre a influência das novas tecnologias sobre as crianças para que consigamos ter uma percepção mais abrangente sobre a temática, sobretudo, estudos que tentem entender o problemas não só pela perspectiva dos pais e educadores, mas, sobretudo, das próprias crianças.

Logo abaixo, disponibilizo a apresentação do mencionado trabalho disponibilizada pela própria autora.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Obesidade infantil em discussão


No post de hoje, indico o documentário Muito Além do Peso (dos mesmos produtores de Crianças, a alma do negócioque discute sobre a obesidade infantil. O filme debate o assunto,  mesclando opiniões de especialistas com histórias reais de crianças que vivenciam o problema de estarem acima do peso.




Para quem quiser complementar a discussão promovida pelo filme, deixo o link do meu trabalho de conclusão de curso cujo título é O uso do palhaço Ronald no site brasileiro da marca McDonald's como estratégia de fidelização do consumidor infantil. Neste trabalho apresento uma análise de como a grande empresa mundial de fast food direciona suas estratégias de marketing às crianças.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Carta Aberta ao Conar




Duas recentes medidas do Conar referentes aos abusos da publicidade voltada para as crianças nos deixaram preocupados e ainda mais descrentes da atuação deste órgão com relação à proteção da infância.
A primeira foi a decisão de sustar a campanha da Telessena de Páscoa por anunciar para o público infanto-juvenil um produto que só pode ser vendido para maiores de 16 anos (de acordo com regulamentação da SUSEP). A segunda foi a advertência dada pelo Conar à Ambev, com relação ao ovo de páscoa de cerveja da Skol.
Ambas atitudes do Conar seriam dignas de aplausos - se tivessem sido tomadas quando as campanhas publicitárias estavam no ar, na Páscoa, em março. Mas o Conar só agiu em junho, quando as campanhas já não eram mais veiculadas.
Com isso, não houve nenhum impedimento para que a mensagem indevida da Telessena atingisse impunemente milhões de brasileirinhos e que a Ambev promovesse bebida alcoólica através de um produto de forte apelo às crianças. A advertência à Skol é ainda mais ineficaz, pois não impede que no próximo ano, produto semelhante seja oferecido.
O Movimento Infância Livre de Consumismo vê nessas decisões a comprovação de que o atual sistema de autorregulamentação praticado pelo mercado publicitário brasileiro é lento, omisso e ineficiente. Fato ainda mais grave quando se trata da defesa do público infantil.
Por isso, exigimos que a publicidade infantil sofra um controle externo como todas as atividades empresariais. Reiteramos nossa postura de que, sem leis e punição, jamais teremos uma publicidade infantil mais ética.
Nós, mães e pais, exigimos respeito à infância dos nossos filhos e solicitamos que estas duas atuações não constem dos autos do Conar como casos de sucesso. Contabilizar pareceres dados depois que as campanhas saíram do ar, como exemplo da firme atuação do Conar, é propaganda enganosa. E isso contraria o tal Código de Autorregulamentação que os publicitários insistem em tentar nos convencer que funciona.
(Este texto faz parte de uma blogagem coletiva proposta pelo Movimento Infância Livre de Consumismo juntamente com blogs parceiros. Este movimento é composto por pais e mães que desejam uma regulamentação séria e eficiente da publicidade voltada para crianças. Para saber mais acesse: http://www.infancialivredeconsumismo.com.br)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O que deixa as crianças felizes?

O instituto de pesquisas Datafolha, solicitado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, ouviu 1.525 crianças de 4 a 10 anos de 131 municípios com o objetivo de saber o que deixa as crianças felizes e tristes.
                        
O estudo completo pode ser conferido no link: 
 http://www.sbp.com.br/flipping-book/SBP_Noticias63/index.html#/14/zoomed    
            
Mas, gostaria de ressaltar aqui dois resultados relacionados ao tema brincar que chamaram atenção:
  • “...as brincadeiras aparecem como atividades favoritas quando as crianças não estão na escola. E, ao contrário do que muitos pais pensam, tecnologia não é o primeiro item da lista. Seis entre dez pais entrevistados apontaram videogames e internet como distrações favoritas. Na pesquisa com as crianças, apareceram brincar de boneco ou boneca e de carrinho como brincadeiras individuais favoritas. Videogame está em quarto lugar nessa categoria. Dentre as distrações em grupo, as crianças elegeram jogar bola, andar de bicicleta e brincar de esconde-esconde. As atividades que faziam sucesso na infância dos adultos são as mesmas que fazem a alegria dos pequenos de hoje”.
  • “Os adultos de sete famílias, dentre as dez ouvidas, apontaram perder em jogos e competições. Para 47% das crianças, tristeza é brincar sozinho. Perder não foi citado como motivo de tristeza”.

É fato que os brinquedos industrializados e virtuais que muitas vezes propõe uma brincadeira  individualizada estão cada vez mais no cotidiano das crianças, no entanto, no estudo da SBP, elas expressam que as brincadeiras clássicas e coletivas ainda são as que lhes trazem maior satisfação.Estudos como esses da SBP que se propõem a ouvir as crianças são fundamentais para que nos desvincilhemos de conceitos e imagens pré-concebidas sobre a infância. 




sexta-feira, 8 de junho de 2012

Documentário Bebês - Uma cultura pode existir sem uma ideia social da infância?


Bebês é um documentário filmado pelo francês Thomas Balmès que mostra o cotidiano de quatro bebês de países diferentes (Namíbia, Japão, Estados Unidos e Mongólia). As crianças foram filmadas durante um ano nas mais diversas situações com o intuito de apresentar como a criação é influenciada pela cultura em que a criança está inserida.  

O filme está longe de uma linguagem convencional. Não há diálogos, depoimentos ou narração.  A câmera está lá apenas como testemunha dos acontecimentos na vida dos quatro bebês, passando pelo nascimento, os primeiro passos, as descobertas e a evolução de cada um deles. 

Os contrastes culturais das vidas de Ponjao (um bebê de uma tribo em Namíbia), Mari (que vive em um arranha-céu em Tóquio), Hattie (uma garotinha americana filha de um casal moderno e culto) e Bayarjargal (um bebê que mora em uma tenda na Mongólia) é o que torna o filme interessante. De um lado, pais super-protetores que cercam os filhos de aparatos tecnológicos e, do outro, crianças vivendo de forma "simples", dividindo a água do banho com cabras, engatinhando no barro.


Acompanhar a história desses bebês durante uma hora e meia permite ao espectador refletir sobre o conceito de infância em diferentes culturas. 

Para quem quiser conferir o documentário completo, segue o link no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=siJPQBs-D08. E, para não encerrar o tema e levar a reflexão para posts posteriores, encerro com a indagação: 

"Uma cultura pode existir sem uma ideia social da infância?".